Ser gay é legal também ( mas não te ensinam isso)
Heterosexualidade compulsória e homofobia internalizada
Esses dias recebi uma mensagem interessante pedindo dicas para lidar com a homofobia internalizada ( ou auto homofobia).
Fiquei feliz, primeiro, porque alguém que leu meus textos se sentiu confiante em pedir minha ajuda. E mais ainda por me considerar capaz de ajudar.
Depois, fiquei me perguntando em qual texto falei sobre homofobia internalizada... e me ocorreu que nunca escrevi sobre isso aqui no Sub. (Mas tenho um vídeo bem legal no TikTok sobre o assunto!)
Então nasce aqui o Manual de Como Lidar com a Homofobia Internalizada. (Insira aqui uma dancinha animada!)
Mas para começar…
O que é homofobia internalizada?
Conheci esse conceito quando estava atendendo uma paciente lésbica. Durante as sessões, eu percebia que sua sexualidade influenciava sua demanda clínica, mas me sentia constrangida em perguntar mais sobre o assunto. Eu temia que ela interpretasse de forma errada e, no futuro, dissesse algo como:
"Minha psicóloga achava que eu __________ porque sou lésbica."
Além disso, eu não queria causar uma ferida que não pudesse fechar. Afinal, ela foi minha primeira paciente nos estágios clínicos da faculdade, e eu me cobrava e ainda me cobro para não fazer merda durante os atendimentos. Por mais que ela parecesse gostar bastante do nosso processo terapêutico, eu queria ter certeza de que estava conduzindo tudo da melhor forma possível.
Então após aquela sessão,depois de tanto engolir minhas palavras, decidi me preparar para a próxima sessão. Então fui além da TCC e estudei mais sobre lesbianidade e suas perspectivas dentro da saúde mental.
E o que aprendi no processo?
Li alguns artigos, mergulhei no livro Terapia Afirmativa, do psicólogo brasileiro Klecius Borges, e ouvi um podcast maravilhoso chamado Chá das 4 (que tem no YouTube e acho mara).
Foi uma chuva de insights. Foram dias me aprofundando em um universo bem diferente do que eu conhecia. E, no fim, entendi qual era o melhor caminho para abordar o assunto com minha paciente.
O resultado? Positivo! Ela segue comigo até hoje.
Essa experiência me fez perceber algo essencial: como falei no meu último texto (Eu sou preconceituosa, e você também é), não basta apenas não sermos preconceituosos para termos uma boa atuação clínica.
Mesmo me considerando super desconstruída, tive medo de falar algo errado. E esse medo foi um bom sinal. Ele me fez buscar mais conhecimento, e me identifiquei tanto com a terapia afirmativa que hoje sei que essa será uma linha essencial no meu trabalho.
Mas afinal, o que é terapia afirmativa?
Resumidamente (porque se eu me estender muito, esse texto vai flopar, o que é irônico por aqui)...
A terapia afirmativa busca compreender a experiência do paciente LGBTQIA+ através de alguns pilares. O primeiro deles é:
1. Heterossexualidade compulsória
A heterossexualidade compulsória é aquela ideia de que todo mundo é hétero até que se prove o contrário.
Desde pequenos, crescemos ouvindo coisas como:
"Cadê a namoradinha (o) ?"
E outros tipos de comentário que já pressupõem de cara qual sserá ossa sexualidade.Esse bombardeio constante ensina que ser hétero é o normal, e qualquer coisa diferente disso é vista como errada, confusa ou inadequada.
Isso leva muitas pessoas LGBTQIA+ a duvidarem de si mesmas, reprimirem sentimentos e tentarem se encaixar em um modelo que não as representa. Mas a real é: não tem nada de errado com você!
2. Homofobia Internalizada
A homofobia internalizada (ou auto-homofobia) acontece quando uma pessoa LGBTQIA+ absorve os preconceitos que aprendeu ao longo da vida. Basicamente, a sociedade passa anos dizendo que ser hétero é "o certo", e a gente cresce com essa ideia grudada na cabeça. O resultado? Quando percebemos que não somos héteros, bate um bug interno.
Funciona mais ou menos assim:
1. Você cresce ouvindo que ser LGBTQIA+ é estranho, errado ou motivo de piada.
2. Um dia, percebe que sente algo “fora do padrão”. Mas, em vez de achar natural, vem aquele medo de "e se eu for?".
3. A negação começa: "é só uma fase", "eu só não encontrei a pessoa certa", "não vou rotular nada".
4. O medo do julgamento bate forte. Você evita se expressar ou demonstrar interesse por algo que possa "te entregar".
5. A auto-homofobia aparece. Desde evitar relações até criticar outras pessoas LGBTQIA+ (como se isso te fizesse menos parte do grupo).
Tá , mas como superar isso?
De acordo com Klecius Borges e a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), superar a homofobia internalizada envolve treinar sua mente para desafiar os preconceitos que foram impostos a você. Como faz isso?
1. Identifique e questione seus pensamentos automáticos
Muitos pensamentos negativos que surgem sobre sua identidade não são verdades absolutas, mas sim ideias que foram ensinadas ao longo da vida. Então, quando bater aquela dúvida ou insegurança, pare e se pergunte:
Isso é um fato ou só um medo que colocaram na minha cabeça?
O que eu poderia dizer para mim mesmo de uma forma mais compassiva?
A TCC ensina que pensamentos automáticos podem ser modificados, e esse é um dos primeiros passos para enfraquecer a homofobia internalizada.
2. Trabalhe a autocompaixão
Se culpar ou se cobrar por sentir essas inseguranças não ajuda em nada. Você não nasceu se odiando, foi ensinado a se sentir assim.
Então, em vez de se punir, experimente se acolher.
Se pergunte: "Se um amigo meu estivesse passando por isso, o que eu diria pra ele?" Agora, diga isso para si mesmo.
3. Consuma referências positivas
Se tudo o que você vê sobre pessoas LGBTQIA+ são histórias de sofrimento, tragédia ou estereótipos, sua visão sobre si mesmo fica distorcida.
Então comece a consumir conteúdo a tua comunidade. Leia sobre pessoas LGBTQIA+ bem-sucedidas e felizes.Veja filmes, séries e livros que mostram relacionamentos saudáveis.
Siga criadores de conteúdo que falam sobre o tema de forma positiva e acolhedora. ( de novo eu falando SIGA PESSOAS QUE SE PARECEM COM VOCÊ)
Isso vai ajudar seu cérebro a normalizar sua identidade e entender que você pode ser feliz mesmo com as adversidades.
4. Tenha uma rede de apoio
A solidão em nada faz bem. Estar cercado de pessoas que te entendem faz toda a diferença. Se sua família não dá esse suporte, procure espaços onde você possa ser você sem medo.
Grupos LGBTQIA+, amigos, fóruns na internet, terapia... O importante é saber que você não está sozinho.
5. Terapia
Eu sei que é horrível abrir um texto ma internet querendo achar uma solução rápida pro seu problema e ver que a solução é a terapia. Mas não tem como fugir.
Se puder tente buscar uma ajuda especializada para esse processo com um psicólogo que compreenda essas questoes e que tenha práticas afirmativas.
Um conselho que dou para evitar traumas é perguntar ao seu psicólogo, na primeira sessão, o que ele pensa acerca dos temas mais importantes para você acerca da sua identidade, sexo ou o que mais você quiser.
A terapia te traráferramentas para lidar com preconceito externo, melhorar a auto estima, impor melhor seus direitos, além de ser um espaço de desabafo.
Oi, obrigada a você que leu até aqui.
Obrigada também a todos que mandam mensagem , não me incomodo adoro na verdade então sintam se a vontade.
E para quem é novo aqui….Meu nome é Vitória sou graduando de psicologia e estudo psicologia através do recorte de gênero, raça e sexualidade.
Então se inscreve aí 😉
Obrigada pelo post Vitória! Me descobri bissexual ano passado e desde então tenho tentado lidar justamente com a heterossexualidade compulsória da qual fui vitima por uma boa parte da minha vida. Algumas coisas ainda machucam, então foi muito importante para mim as suas orientações.
Amg qual sua opiniao sobre psico que ñ são da comunidade tratando quem é y.y. me sinto super insegura de falar sobre questões de sexualidade com psico hetero