Este texto não é para você que compra roupas apenas quando precisa e não se deixa consumir por tendências. Nem para quem vive bem no minimalismo. Este texto é para você que consome diariamente conteúdo feminino nas redes sociais e acompanha as 500 nomenclaturas que surgem para definir diferentes estilos — clean girl, mob wife, ou seja, lá qual for o da vez — e, por conta disso, sente que está consumindo desenfreadamente e, mesmo assim, nunca está contente. Ou pior: sente que não tem nada no guarda-roupa que realmente a represente.
Também é para você que vê mulheres realizando várias atividades no dia, cultivando mil passatempos, enquanto você se sente sem graça ou forçada a gostar de algo que não tem nada a ver contigo. Afinal, em 2025, todo mundo parece ser cult e estiloso, não é mesmo?
Então, pegue seu café ou chá e vamos conversar.
A obsessão de ser diferente sendo igual (Moda)
Fotografar com uma Cyber-shot, usar unhas super decoradas, calça de oncinha ou um acessório red cherry, Adidas Sambas, short boxer, Farm. A cada dia, somos bombardeadas por uma nova tendência. E isso pode ser legal, mas até que ponto estamos sendo estilosas ou apenas tentando ser o famoso "diferente, porém igual" para nos sentirmos parte de uma comunidade?
Sempre que entro no TikTok, sou atingida por centenas de meninas brancas com seus Zerezes ou Miu Miu na cara, pregando o que é ou não tendência e o que você deve ou não deve usar. E isso não é uma crítica — afinal, se esse conteúdo aparece para mim, é porque eu consumo. Mas essa é uma armadilha quando começamos a achar que precisamos ser como elas para sermos estilosas, bonitas, legais ou algo assim. Essa armadilha pode custar nosso bolso e também nossa identidade.
Eu sou como muitas aqui: a típica garota que ama Pinterest, TikTok e desfiles de moda. Tanto que minha segunda opção no SISU foi Moda. Já pensou se eu fosse estilista em vez de psicóloga? Não sei se daria certo.
Mas, consumindo esses conteúdos, muitas vezes via algo bonito que não favorecia meu corpo ou representava meu estilo — e, mesmo assim, sentia vontade de comprar, porque, se ficava bonito em todo mundo, deveria ficar bom em mim também. (E nem sempre ficava.) Sentir essa necessidade de ter algo só porque todo mundo tinha me deixou meio apavorada. Até que ponto era uma vontade minha ou eu estava apenas inserida no efeito manada?
Por exemplo; em 2023, todo mundo precisava ter uma wide leg para ser descolada. Em 2024, virou brega, e agora a moda é usar calça estampada. Sabemos que adolescentes são facilmente influenciados por essas tendências (quem for mãe entende bem), mas será que nós, mulheres adultas, também não estamos buscando ser aceitas ou nos sentir parte de um grupo através dessas modas que nem sempre expressam nossa identidade?
Pensando nisso, fiz uma limpa no guarda-roupa e decidi consumir menos esses conteúdos para descobrir minha verdadeira identidade. E bem… sou legal. Sou brincos diferentes, mãos cheias de anéis, blusas hippies, artesanatos e peças jeans. Sou legal para caral... ops, não posso falar palavrão aqui.
Essa decisão também se conecta com minha escolha de consumir de maneira cada vez mais consciente. Afinal, como diria a incrível Vivienne Westwood: "Compre menos. Escolha bem. Faça durar. Qualidade, não quantidade. Todo mundo está comprando muitas roupas." Isso, sim, é moda.
Precisamos pensar cada vez mais no impacto que nosso consumo tem sobre o meio ambiente. Afinal, isso é que deveria ser verdadeiramente cult.
Como isso afeta a autoimagem (Corpo)
Outro ponto: quanto mais conteúdo de moda você consome, mais acesso tem a corpos de modelos que são "perfeitos" e, muitas vezes, irreais. Isso gera aquela frustração do tipo: como assim essa micro-saia streetwear não ficou boa em mim? Certeza que preciso emagrecer...
Mas quão saudável isso é?
A magreza sempre esteve na moda, isso é fato. E, se não consumimos conteúdo de corpos semelhantes aos nossos, nunca vamos sair dessa neurose viciante de que ser magra é ser bonita. Como futura psicóloga estudando saúde mental feminina, afirmo: ser magra, muitas vezes, não é saudável, mas sim um sintoma de um transtorno alimentar grave, que pode custar sua vida.
Você segue pessoas que se parecem com você? Que têm um corpo, cor e cabelos semelhantes aos seus? Ou está apenas tentando se encaixar em um padrão que nunca foi feito para você?
Sobre ser cult (Hobbies para se encaixar e não para se distrair)
Sinto que essa necessidade de se encaixar vai além da moda. Precisamos ter os mesmos hobbies, correr às 5 da manhã ou ler os mesmos livros para sentir que pertencemos a algo. Ou então, precisamos ler apenas clássicos para nos sentirmos mais inteligentes do que quem lê Colleen Hoover ou os best-sellers famosos no TikTok.
E, afinal, por que nós, mulheres, especificamente, sentimos tanta necessidade de nos encaixar e de mostrar quem somos o tempo todo, enquanto os homens, na maioria, se contentam em usar bermuda com camisa polo e está tudo bem?
Será que é porque somos mais criativas, mais inclinadas à arte e ao conhecimento? Ou porque vivemos constantemente em competição umas com as outras? Estamos sempre querendo ser melhores. Não é por isso que surtamos se vemos alguém com o mesmo vestido que a gente numa festa?
Mulheres vivem em uma eterna competitividade — seja com outras ou consigo mesmas. Se você é mãe e anda sempre arrumada, será julgada. Mas, se você for mãe e se “desleixar”, também será julgada. Como assim você não dá conta de ir ao cabeleireiro, esteticista, manicure, cuidar da casa e ainda amamentar? Ou como assim você, mulher, faz pouco demais enquanto aquela loira rica do Instagram já acordou às 5h da manhã, leu café com Deus Pai, correu 10 km na orla da praia e ainda gerencia uma empresa?
Tem algo errado com você? Com a gente? Com as redes sociais? Ou com tudo no geral? Estamos querendo ser quem vemos nas redes sociais e nos esquecemos que aquilo não é real.
Ter hobbies é algo saudável. Mas, no geral, as mulheres não costumam ter muito tempo para isso. Como diz Ana Paula Valadão, somos ensinadas desde pequenas a cuidar da casa, da família, dos filhos. E, tão ocupadas assim, parece até utopia desejar uma atividade de lazer. Então, Deus me livre desmotivar alguma mulher aqui a se desafiar e tentar algo novo! A questão é: o que você faz realmente te representa? Você realmente se conhece ou, pior, está apenas contente fazendo crochê porque tem medo de tentar coisas que acha que não estão mais certas para a sua idade? Afinal, para muita gente, a mulher após os 20 anos já é considera velha para várias coisas (ballet, natação, lutas) — e isso é triste.
Mas como descobrir o que você realmente gosta quando todo mundo parece gostar das mesmas coisas?
Como disse no último texto: somos um universo inteiro e já nos bastamos. Então, vamos descobrir quem realmente somos, meninas! Vamos ser diferentes porque ser autêntica é ser você mesma. E isso, sim, é muito cult.
Mesmo que não precisemos ser cult este ano.
Este texto não tem o intuito de ofender ou criticar estilos, ou hobbies pessoais, mas sim trazer uma reflexão sobre a necessidade de sentir pertencimento através da moda. Algo que tenho observado em muitas meninas, inclusive em mim mesma, e que, muitas vezes, nos afasta de quem realmente somos.
Por muito tempo, eu deixei de usar acessórios diferentes por vergonha de ser vista como "estranha" ou "exagerada", e isso me fez deixar de gostar de mim mesma, pois não estava expressando minha autenticidade. Hoje, consigo perceber que o que faz a diferença é o que faz sentido para mim, e não o que os outros pensam.
Não generalizo, apenas faço pontuações sobre o que vejo ao meu redor, pois esse é o propósito desta newsletter: falar sobre mim e o que observo no meu cotidiano. Quero trazer uma visão sincera, sem críticas, apenas reflexões.
No mais, obrigada para você que leu até aqui.
E se você ainda não me conhece, sou Vitória Araruna, tenho 23 anos e sou apaixonada por psicologia, moda, literatura, gatos e café. Atualmente, estou lendo Conectadas, de Clara Alves.
A ideia de seguir tendências se tornou uma forma de vender a maior quantidade de produtos possíveis e depois descartá-los.Ser original vai além de vestir “peças diferentes” e sim como sua essência transmite naquela roupa.
A forma que caminha,as vezes parece que você está usando uma segunda pele.Por isso que eu não sou muito fã das “clean girls” principalmente.Suas roupas são simples?Sim,mas ao mesmo tempo,vendem um estilo de vida que em minha humilde opinião acaba se tornando uma forma de mostrar quem possui mais dinheiro para tal item ou um discurso nada saudável em relação a como você ver você mesma(sim,estou falando principalmente das pessoas que sofrem de pele acneica ou pessoas não brancas e bote ênfase nelas).
Adorei o seu artigo e confesso que fiquei feliz de saber que no final você conseguiu se encontrar em relação ao estilo,pois se estilizar vai além do acessório mais requisitado e sim do que realmente você é.
Espero que tenha um bom dia!! : )
nossa sim sim! às vezes sinto que não tenho personalidade nenhuma se não faço parte de algum desses grupos de tendências, como pode